sábado, março 23, 2013




 
 
 
 
Nesta  hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca
             o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade
 
Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida
 
O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe
 
A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados
 
Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar
 
Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção -
 
Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste
 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen - Nesta Hora




Posted by Picasa

2 comentários:

alfacinha disse...

Adoro os poemas da Sophia de Mello,são claras E evidentes.
Cumprimentos de Antuérpia ,tapada de cobertor branco.

Ana Tapadas disse...

Querida Isabel,
ah...como eu gosto deste poema de Sophia! Com esta foto de um azul tão limpo até me apetece lê-lo alto!

Beijinho com chuva.