quinta-feira, fevereiro 18, 2016




Não tenho muito tempo para o mar
para nadar no mar para pescar
para nadar e amar não tenho tempo
para outras coisas em ar: o frio aperta
os ossos doem o coração palpita.
Vou pela praia contra o vento mas
sei que tudo agora é sempre assim
contra a corrente o tempo o próprio pensamento
na areia mole os pés vão-se enterrando
já não batem o crawl como batiam
já não logram correr como corriam
e no entanto o tempo agora é de corrida
contra o tempo se corre contra o tempo
contra o tempo se corre e assim se morre
em frente ao mar olhando a desmedida
distância entre a tão curta vida e o amor dela
sobretudo ao crepúsculo quando o mar
nos interpela e nos apela e a caravela
do coração se põe de novo a navegar
mesmo sabendo que já não há partida
que as rimas em ar estão a acabar
e todo o tempo agora é contra o tempo
e mesmo sem correr só há corrida.


Manuel  Alegre - Canção do Tempo que Passa

sábado, fevereiro 06, 2016



O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.

Serve-se de palavras
por  ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.

Eugénio de Andrade - Quase Nada