quarta-feira, maio 28, 2008

Quadro de Carlos Botelho - Entrada da Barra - 1964


Digo:
"Lisboa"
Quando atravesso - vinda do sul - o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do meu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas -
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade-
Digo para ver


Sophia de Mello Breyner Andresen - Lisboa

3 comentários:

Cristina disse...

Magnifico.
Bâo noite, beijinhos.

Carminda Pinho disse...

A entrada na barra é simplesmente bela.
Ai ai...que saudades...

Beijos

Bípede Implume disse...

Querida Cristina
Com tanta chuva qualquer dia temos barbatanas.
Beijinhos e saudades.

Querida Carminda
O Tejo é um rio magnífico.
Beijinhos.