terça-feira, março 17, 2009




...

Eu vejo como
a flor, a sua cabeleira,
o seu acetinado peito,
a sua compostura
nas lojas esplendem.
Vejo
como a cor, a luz de seda,
a túrgida torre,
o ramo de ouro,
a pétala violeta da aurora,
o pedúnculo aceso da rosa,
engalanados e nus
se preparam
para entrar na casa dos ricos.

...

Oh, eu não te culpo, flor,
esguia flor de eriçado ímpeto,
não te nego o direito
de levar o relâmpago
que a terra engendrou com a tua formosura,
para a casa dos ricos.
Eu tenho a certeza
que amanhã
florescerás em todas
as habitações do homem.
Não terás medo da rua esconsa,
nem haverá ao cimo da terra
sombrios tugúrios
onde não entre a primavera.
Não te culpo, flor, estou ciente
do que te digo,
e para que floresças onde deves
florescer, em todas as janelas,
é que eu luto,
flor,
e canto a partir de agora, assim
duma forma tão simples,
para toda a gente,
e reparto
as flores de amanhã.

Pablo Neruda - Ode à Flor (Excertos)
Posted by Picasa

11 comentários:

Ana Tapadas disse...

Querida Isabel:
Olhando, assim, pensei nas nossas ilhas e, depois, o maravilhoso excerto de Neruda. Repartir as «flores de amanhã» é algo de sublime.
Que os teus dias sejam tranquilos e belos! Bem o mereces, na tua sensibilidade tão latente.
Beijinho

Dalva Nascimento disse...

Oi, querida!

Gosto muito de passar por aqui para ver tuas delicadas fotos. São imagens que nos sensibilizam, de uma luminosidade e cor que nos alegram o dia! Obrigada por tão bela partilha e pelo Neruda!

Boa quarta-feira prá ti!

Cristina disse...

Carregado nas cores!
A pimaveira mioto lindo!
Bom fim de semana, grande abraço.

Janaina Amado disse...

O poema de Neruda é magnífico, assim como as fotos. Gostei muito também, Isabel, do poema de Lorca que postaste no acreditando. Obrigada!

Lídia Craveiro disse...

Olá Isabel. Ultimamente sinto-me sempre em falta com os amigos dos blogs. Trabalho sempre até muito tarde e por vezes falta-se tempo para ver as novidades que vocês nos vão dando. As tuas fotografias e os teus poemas são sempre uma benção para a alma. Boa escolha, a de Pablo Neruda, apropriada à època e à conjuntura economica. Daqui a pouco só os ricos tem dinheiro para comprar um raminho para embelezar a jarra.
Obrigado pelo teu comentário.
Um beijo
Lidia

Meg disse...

Isabel,
Este é um poema que tem muito que se lhe diga... se lido com a devida atenção...
O que se pode dizer a propósito de uma simples flor, e Neruda é um grande poeta.
E a estrelícia é maravilhosa.

Beijo

vieira calado disse...

Uma excelente escolha, digo eu.


Cumprimentos

Carminda Pinho disse...

Foste ao jardim colher uma estrelícia linda.
Do poeta, e do poema nem me atrevo a falar. É lindo demais...

Beijos

Je Vois La Vie en Vert disse...

Este poema está em harmonia com a fotografia das estrelicias que também tenho no meu jardim. Esta flor original que tem petalas a renascer quando "morre um !

Beijinhos verdinhos


P.S. Pois é desvendaste o meu segredo...mas não o divulgues, está bem ? Só o partilho com alguns...
No Domingo, até perguntei a uma senhora se ela se chamava Isabel por ela estar a olhar para mim...
Infelizmente a população de Lisboa não se desloca muito para este tipo de concertos (Gratuitos ainda por cima). A assistência era escassa mas estava lá a "Sagitário"

ADRIANO NUNES disse...

Isabel,

Parabéns pelas imagens e pela ótima escolha do poema!


Beijo imenso,
Adriano nunes.

Bípede Implume disse...

Olá meus queridos amigos

Ana Flor
Cristina
Janaína
Lídia
Meg
Vieira Calado
Carminda
Verdinha
Adriano

Temos que mitigar o mau momento que todos atravessamos pondo um pouco de poesia no nossos dia a dia. Pois digamo-lo também com flores.
Para todos muito obrigada pelas vossas palavras que retribuo com muito carinho.
Beijinhos.