quarta-feira, novembro 22, 2006

Recordo-te como eras no outono passado.
Eras a boina cinzenta e o coração em calma.
Nos teus olhos lutavam as chamas do crepúsculo.
E as folhas caiam na água da tua alma.

Fincada nos meus braços como uma trepadeira,
as folhas recolhiam a tua voz lenta e em calma.
Fogueira de estupor onde a minha sede ardia.
Doce jacinto azul torcido sobre a minha alma.

Sinto viajar os teus olhos e é distante o outono:
boina cinzenta, voz de pássaro e coração de casa
para onde emigravam os meus profundos desejos
e caíam os meus beijos alegres como brasas.

Céu visto de um navio. Campo visto dos montes:
a lembrança é de luz, de fumo, de lago em calma!
Mais além dos teus olhos ardiam os crepúsculos.
Folhas secas de outono giravam na tua alma.

Pablo Neruda - 20 poemas de amor e uma canção desesperada (6)
Tradutor: Fernando Assis Pacheco

2 comentários:

Rosario Andrade disse...

Bom dia Platero!
... na água da alma! bonito, bonito mesmo!
Bjico ancho

Bípede Implume disse...

Não sou o Platero, mas agradeço a visita e o comentário.
Um abraço.