sexta-feira, fevereiro 26, 2010




Chagas, Capuchinha (Tropaeolum majus)



Vem, camarada, vem
Render-me neste sonho de beleza!
Vem olhar doutro modo a natureza
E cantá-la também!

Ergue o teu coração como ninguém;
Fala doutro luar, doutra pureza;
Tens outra humanidade, outra certeza:
Leva a chama da vida mais além!

Até onde podia caminhei.
Vi a lama da terra que pisei
E cobri-a de versos e de espanto.

Mas, se o facho é maior na tua mão,
Vem, camarada irmão,
Erguer sobre os meus versos o teu canto.



Miguel Torga - Rendição

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terça-feira, fevereiro 23, 2010


Casa de Santana



Antúrios


Mercado da Fruta




Fui três vezes à Madeira sempre em trabalho. E não foi amor à primeira vista.
Contudo fugindo da parte turística e entrando no mundo real dos madeirenses aprendi a gostar... a amar a Madeira.
Para mim o que torna um local apetecível não é o folclore para turista ver. A Madeira é muito mais do que isso. Tem uma paisagem magnífica, uma flora exuberante de uma beleza de cortar a respiração. E não menos importante o povo madeirense, de uma grande afabilidade, generosidade e de uma alegria contagiante.
E é por conhecer este povo que doi tanto a tragédia que o atingiu. E compartilho da sua dor.

Fotografias de Platero.

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sábado, fevereiro 20, 2010





Queria de ti um país de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma


Mário Cesariny
(Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano,1952)
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc. XIII ao Séc. XXI
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terça-feira, fevereiro 16, 2010




Sé de Évora



Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...

Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro...

O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...
Soa o canto do coro,latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no facto de haver coro...

A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som das rodas de automóvel...

E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa...

Fernando Pessoa - Chuva Oblíqua (II)

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quinta-feira, fevereiro 11, 2010






Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.

Natália Correia - Creio nos anjos que andam pelo mundo

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segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Lagoa - Ericeira

Oxalis - Trevo azedo

Malmequer silvestre

Muscari




Nascemos para o sono,
nascemos para o sonho.
Não foi para viver que viemos sobre a terra.
Breve apenas seremos erva que reverdece:
verdes os corações e as pétalas estendidas.
Porque o corpo é uma flor muito fresca e mortal.

Mexico- Ciclo Nauatle
Versão: Herberto Helder
in Rosa do Mundo

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quinta-feira, fevereiro 04, 2010




Ribeira d' Ilhas - Ericeira


Fui criança , indo por um carreiro,
a caminho do mar, mão na outra mão,
entre as árvores, pedras, insectos e aves.
Toda a Natureza me coube nas pupilas,
mestra de sentimentos, e eu discípula.
E, se fechava os olhos, ela punia-me
com o silêncio cruel das ondas,
a mudez imerecida dos insectos,
e a distância das aves, que doía.
Se os abria, tudo me rodeava,
apaziguador e meu,
mas a mão que me trazia a mão
puxava-me para a luz de cada dia.


Fiama Hasse Pais Brandão - Lisboa (1938-2007)

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segunda-feira, fevereiro 01, 2010


Este é um testemunho de que o sol voltou.
Acho que há muito tempo não sentia tanta alegria em ver roupa a secar. Este fim de semana, na Ericeira, a acrescentar ao colorido normal desta localidade, havia estas, como que, bandeiras a assinalar uma melhoria do cinzentismo que nos tem acompanhado.
Ele, o sol, anda arredio, esquivo, esconde-se por detrás de enormes nuvens cinzentas, que por sua vez se desfazem em chuvas longas e hectolítricas. Por isso, para que conste, ele aí está. Espero que vá ficando.
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