segunda-feira, setembro 28, 2009
sexta-feira, setembro 25, 2009
Deus escreve direito por linhas tortas
E a vida não vive em linha recta
Em cada célula do homem estão inscritas
A cor dos olhos e a argúcia do olhar
O desenho dos ossos e o contorno da boca
Por isso te olhas ao espelho:
E no espelho te buscas para te reconhecer
Porém em cada célula desde o início
Foi inscrito o signo veemente da tua liberdade
Pois foste criado e tens de ser real
Por isso não percas nunca teu fervor mais austero
Tua exigência de ti por entre
Espelhos deformantes e desastres e desvios
Nem um momento só podes perder
A linha musical do encantamento
Que é teu sol tua luz teu alimento.
Sophia de Mello Breyner Andresen - Deus escreve direito
segunda-feira, setembro 21, 2009
Parque das Nações
Esperar ou vir esperar querer ou vir querer-te
vou perdendo a noção desta subtileza.
Aqui chegado até eu venho ver se me apareço
e o fato com que virei preocupa-me, pois chove miudinho
Muita vez vim esperar-te e não houve chegada
De outras, esperei-me e eu não apareci
embora bem procurado entre os mais que passavam.
Se algum de nós vier hoje é já bastante
como combóio e como subtileza
Que dê o nome e espere. Talvez apareça
Mário Cesariny - Estação
sexta-feira, setembro 18, 2009
Há uma loja de tecidos na Ericeira (de que já vos falei) em cuja montra são tratados todas as semanas diferentes temas, sempre muito bem documentados.
Como anteriormente vos disse, faço sempre este percurso, para mim, obrigatório.
E nunca me desiludiu. Como agora. As pessoas da minha geração devem recordar-se com muita nostalgia dos tempos da escola primária aqui representada. Eu recordo, principalmente, as minhas professoras. Como só fui para a Escola Oficial na terceira classe tive três professoras. Uma muito querida na 1ª e 2ª classe. E duas na 3ª e 4ª classe. Recordo, sobretudo o amor pelo ensino, a sua dedicação e carinho. Para os passaritos assustados que nós eramos, encontrarmos uma segunda mãe na "senhora professora" foi um privilégio.
Que guardo na minha caixinha das recordações.
segunda-feira, setembro 14, 2009
Bate a chuva, tic...tic...
nas vidraças da janela.
Canta a chuva, tic...tic...
Que linda canção aquela!
Tic...tic...tic...tic...
Que linda canção aquela
de meninas ao despique:
- Qual de nós será mais bela?
Meninas a fazer meia
com as nuvens de novelo,
nenhuma delas é feia!
Tic...tic...tic...tic...
Tenho um medo que me pélo
que alguma delas me pique!...
António de Sousa - Canção da chuva
sexta-feira, setembro 11, 2009
segunda-feira, setembro 07, 2009
A Nave de Alcobaça
Vazia, vertical, de pedra branca e fria,
longa de luz e linhas, do silêncio
a arcada sucessiva, madrugada
mortal da eternidade, vácuo puro
do espaço preenchido, pontiaguda
como se transparência cristalina
dos céus harmónicos, espessa côncava
de rectas concreção, ar retirado
ao tremor último da carne viva,
pedra não-pedra que em pilar's se amarra
em feixes de brancura, geometria
do espírito provável, proporção
da essência tripartida, ideograma
da muda imensidão que se contrai
na perspectiva humana. Ambulatório
da expectação tranquila.
Nave e cetro,
e sepulcral resíduo, tempestade
suspensa e transferida. Rosa e tempo.
Escada horizontal. Cilindro curvo.
Exemplo e manifesto. Paz e forma
do abstracto e do concreto.
Hierarquia
de uma outra vida sobre a terra. Gesto
de pedra branca e fria, sem limites
por dentro dos limites. Esperança
vazia e vertical. Humanidade.
Jorge de Sena - Metamorfoses