Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes, isto até dar por mim
A perguntar-me coisas...
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente...
Que pensará isto daquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver que tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos...
Entristecia e ficava às escuras,
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro