Não desesperes, Mãe!
O último triunfo é interdito
Aos heróis que o não são.
Lembra-te do teu grito:
Não passarão!
Não passarão!
Só mesmo se parasse o coração
Que te bate no peito.
Só mesmo se pudesse haver sentido
Entre o sangue vertido
E o sonho desfeito.
Só mesmo se a raiz bebesse em lodo
De traição e de crime.
Só mesmo se não fosse o mundo todo
Que na tua tragédia se redime.
Não passarão!
Arde a seara, mas dum simples grão
Nasce o trigal de novo.
Morrem filhos e filhas da nação,
Não morre um povo!
Não passarão!
Seja qual for a fúria da agressão,
As forças que te querem jugular
Não poderão passar
Sobre a dor infinita desse não
Que a terra inteira ouviu
E repetiu:
Não passarão!
Miguel Torga - Não Passarão
2 comentários:
Querida Isabel,
é mesmo assim: não passarão!
Torga é um poeta ímpar para momentos como este.
Fazem, no entanto, muito estrago.
Eu, sinto-me escravizada e...não gosto.
Sempre me disseram que sou viciada em trabalho, mas começo a saturar-me.
Beijinho e boa semana.
Ainda falta -me um livro de Miguel Torga na minha coleção.Tenho de adquirir imediatamente.
cumprimentos de Antuérpia
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