sábado, março 29, 2014
A vida é feita de nadas
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;
De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;
De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai erguer uma videira
Como uma mãe que faz trança à filha.
Miguel Torga - Bucólica
segunda-feira, março 24, 2014
O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente
Gente que seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente
Gente que enterre o dente
que fira de unhas e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente
O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente.
Ana Hatherly Esta Gente/Essa Gente
terça-feira, março 18, 2014
Uma viagem em busca de mudança
Para tentar entender o mundo e os problemas
que as populações enfrentam se faz
necessário provocar o senso crítico e forçar a tentativa de mudança - pessoal e
do ambiente onde vivemos. Nessa busca por uma visão mais abrangente, sair e
movimentar-se não é uma má ideia. Uma viagem é uma maneira de conquistar essa
sabedoria quando coloca o ser humano em situações diferentes do seu cotidiano.
O contato com
culturas diferentes da sua, que atualmente, tem caminhos bem mais facilitados,
constrói o senso de troca entre pessoas que levam e deixam algo da sua própria
vivência por onde passam. Aliás o isolacionismo cultural geralmente provoca um
certo sentimento arredio em relação ao que lhe é diferente, por isso a
informação e o compartilhamento de tradições é uma ponte para abrandar as
relações mundiais.
Se bem que,
nessa divulgação, há de se manter sua verdade e não jogá-la ao mundo de forma
banal. Como a fala é um dos, senão, o maior contato de troca de informações, a
língua é um caminho salutar e que propicia o início rico nessa troca. Estudar no exterior
é o que muitos estudantes planejam, e o intercâmbio é uma ação que patrocina,
naturalmente, digamos, essa comutação.
O que
intimamente impulsionava os grandes navegadores, no século das conquistas?
Havia a ambição de descobrir riquezas, porém havia de existir também uma força
natural ao querer buscar o desconhecido, provar teorias defendidas e na época
não aceitas, é o que move o homem.
Quando uma
viagem toma uma motivação maior, oferece ao descobridor até mais do que ele
espera. E nesse processo o desenvolvimento pessoal construído antes é a base
também para o que há de se acrescentar com a nova experiência, ou seja, o
auto-conhecimento já tem como primeiro passo a sua origem, de onde você vem e o
que faz de sua vida.
Não é à toa que
se diz que há pessoas com olhar de poeta, que enxergam mais do que os outros, e
para alcançar esse detalhe a mais, o desenvolvimento pessoal é um pré-requisito.
“Viajar é
preciso”, como foi dito pelo poeta. Ao organizar uma
viagem, além de toda preparação comum e prática que é indispensável,
deve-se estar aberto a novas experiencias e, além disso, não deixa-las passar
sem delas obter algum tipo de acréscimo interior e que isso possa ser devolvido
ao mundo, especialmente, através da gentileza dos atos.
quarta-feira, março 12, 2014
A vida é o o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento.
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida - pena caída
Da asa de ave ferida -
De vale em vale impelida
A vida o vento a levou.
João de Deus - A vida
quinta-feira, março 06, 2014
segunda-feira, março 03, 2014
Não é só o mau tempo que tem fustigado este nosso País.
Os nossos ouvidos ainda não se recompuseram do manancial de discursos e frases soltas que rodopiam quais folhas levadas pelo vento.
Sobre a escolha do nosso futuro Presidente da República, o primeiro-ministro disse ele, Presidente, " não pode ser um protagonista catalisador de qualquer conjunto de contra poderes, ou um cata-vento de opiniões erráticas...nem deve buscar popularidade fácil"
E logo o senhor professor-comentador veio assumir que sim senhor era um cata-vento. Por outras palavras: enfiou a carapuça.
Até aqui tudo bem. Enfiou a carapuça é lá com ele. Mas já não é lá com ele, quando ele for Presidente da República.
Eu, com toda a certeza, não quero um cata-vento como Presidente da República.
A outra frase: "A vida das pessoas não está melhor, mas o País está" deixa-me perplexa.
Mas então o País não são as pessoas?
Ou haverá pessoas mais pessoas que outras pessoas?
E quem são essas pessoas?
Pois eu tal como muitas pessoas que conheço não estamos melhor.
Então o que é que está melhor no País sem ser as pessoas?
Acho que houve um deslize, um fugir-lhe a língua para a verdade. Porque há de facto um País a duas velocidades. Uns, poucos, enriquecem muito depressa enquanto outros, muitos, empobrecem muito e muito depressa.
A minha outra preocupação são as alforrecas.
Sim, isso mesmo, as alforrecas.
Além de reproduzirem a uma velocidade alucinante. De se alimentarem vorazmente.
Não morrem. Elas morrem mas quando estão em putrefacção, desintegram-se como acontece aos cadáveres, um certo número de células escapa-se , começam a agregar-se e num espaço de cinco dias voltam à vida.
Ou onze meses, digo eu.
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