Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia em que se invoca
o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira e não meia verdade
Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida
O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe
A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados
Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar
Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção -
Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste
Sophia de Mello Breyner Andresen - Nesta Hora
2 comentários:
Adoro os poemas da Sophia de Mello,são claras E evidentes.
Cumprimentos de Antuérpia ,tapada de cobertor branco.
Querida Isabel,
ah...como eu gosto deste poema de Sophia! Com esta foto de um azul tão limpo até me apetece lê-lo alto!
Beijinho com chuva.
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