sexta-feira, maio 10, 2013

 

Café Chave D'Ouro Lisboa
 
(Imagem tirada da Wikipedia)
 
Este café já não existe mas no dia 10 de Maio de 1958 o General Humberto Delgado deu, neste lugar, uma conferência de imprensa sobre a sua candidatura à  Presidência da República.
Indagado sobre a sua intenção em relação ao ministro Salazar caso ganhasse as eleições.
O General sem Medo, como era conhecido, respondeu: "Obviamente, demito-o."
 
Para que conste ele não ganhou nas urnas por, segundo se dizia, ter havido batota na contagem dos votos, mas ganhou no coração dos Portugueses.
 
Foram tempos emocionantes e muito perigosos por causa da Pide e dos tais "bufos".
 
Vou recordar alguns excertos do seu discurso, no Liceu Camões que ficava perto de minha casa, nessa altura.
 
...
" E sabeis porquê? Porque a alma, entusiasmo, fé e valentia, sem as costas cobertas por baionetas, são coisas que se não compram. Nem tudo se compra com dinheiro, nem mesmo reforçando os gastos confidenciais do Ministério do Interior como acabam de fazer.
...
 
Têm dinheiro, o nosso, mas não têm sossego. A sua consciência, embora já submersa para níveis muito longínquos do subconsciente, certamente muita vez os não deixa dormir. Nós ao contrário, embora escravizados, com a nossa vida, o nosso pão dependentes do sorriso ou boa vontade de meia dúzia de senhores, temos alegria, temos fé. Tanta fé que nem o aparato bélico que o governo histericamente amedrontado criou contra uma população inerme e indefesa, nos mete medo.
...
 
O copo transbordou sedento de justiça, mas o Governo não quer ver. Continua a pontificar como professor para meninos!
A nota oficiosa, alarmante, mistificadora, no estilo sibilino, tão conhecido pretende explicar em termos de desordem a impopularidade de um governo e a falência de um chefe, discípulo obsoleto de Hitler e Mussolini. Mas já não iludem ninguém a não ser União Nacional e os sugadores do Povo, do tipo daquele que pode receber só num ano 3.000 contos pelo seu trabalho a dirigir os belos diamantes ao mesmo tempo que desgraçados chefes de família vivem com os seus em regímen de sub-alimentação bem como os seus filhos , com menos por mês do que eles gastam em charutos por dia.
...
E a esse governo, repetimos como no Porto: Cansaram-nos! Cansaram-nos! Reformem-se! Reformem-se! Vão-se embora! Vão-se embora!"
 
Foi um discurso que acabou em apoteose. Eu ouvia do meu quintal.
 
 

Posted by Picasa

2 comentários:

Ana Tapadas disse...

Querida Isabel,
admiro profundamente essa personalidade. cresci a ouvir falar dele na casa do meu avô paterno. O teu testemunho é apropriado e certeiro.

Beijinho e bom Domingo

alfacinha disse...

Olá
"A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa de mau gosto”
Cumprimentos de Antuérpia