Chagas ou Capuchinhas
Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas.
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê,
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Fernando Pessoa/Alberto Caeiro
2 comentários:
Olá Isabel
Os seus poetas enriquecem com frases lindas a língua portuguesa,
e as flores embelecem com cores extraordinárias a terra dos lusos .
Cumprimentos de Antuérpia
Querida Isabel,
eu também, como o poeta, quero a realidade...mas ela anda tão atormentada! Afundemo-nos na beleza das tuas fotos.
Beijinho grande
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