sexta-feira, abril 04, 2014
Nesta cidade, onde agora me sinto
mais estrangeiro do que um gato persa;
nesta Lisboa, onde mansos e lisos
os dias passam a ver gaivotas,
e a cor dos jacarandás floridos
se mistura à do Tejo, em flor também,
só o Cesário vem ao meu encontro,
me faz companhia, quando de rua
em rua procuro um rumor distante
de passos ou aves, nem eu já sei bem.
Só ele ajusta a luz feliz dos seus
versos aos olhos ardidos que são
os meus agora; só ele traz a sombra
de um verão muito antigo, com corvetas
lentas ainda no rio, e a música,
sumo do sol a escorrer da boca,
ó minha infância, meu jardim fechado,
ó meu poeta, talvez fosse contigo
que aprendi a pesar sílaba a sílaba
cada palavra, essas que tu levaste
quase sempre, como poucos mais,
à suprema perfeição da língua.
Eugénio de Andrade - Em Lisboa com Cesário Verde
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2 comentários:
Adoro o poema, e o sol de Lisboa deixa-me recordar de tempos felizes nesta cidade .
Querida Isabel,
sou tão suspeita para falar de Eugénio de Andrade! É o meu poeta de eleição. Este poema está sabiamente escolhido.
Bela foto.
Beijinho e uma boa semana.
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